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By Ferramentas Blog

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Pinheirinho: a velha luta de classes

* Fico muito feliz em postar um texto de meu bom amigo Diego Dobri, que seja o primeiro de muitos desta parceria! Leandro

Há algumas semanas atrás, podemos ver toda espécie de dor humana, configurada por abusos aos direitos humanos de pobres cidadãos, que carregam consigo a dor de milhares de brasileiros, a dor de pessoas que tiveram suas esperanças nas mudanças sociais que nosso país vem sofrendo como sendo apenas histórias de conto de fadas. Pessoas que apenas pela cor da sua pele e pela sua classe social que foge aos moldes burgueses foram sub-julgados e humilhados pelo próprio Estado que deveria ajudar-lhes na ascensão social e não jogá-los a própria sorte e a todo tipo de miséria e sofrimento.
Pessoas que com certeza sofrem a dor mais desumana que um ser humano pode vir a sofrer, a dor da própria existência. Ter de conviver todos os dias com sua perda e pagar o preço não por ter errado, mas sim o preço de todos nós termos errados, carregar consigo a dor de não ter onde morar, a dor de não ser forte o suficiente e a dor de não achar-se como pessoa, mas sim como algo que é jogado, (“despejado” seria o termo correto) a própria sorte. Esses cidadãos não tiveram direitos constitucionais assegurados, como o direito basilar a moradia, pelo contrário tiveram seus imóveis que com tanto custo construíram demolidos, junto com seus pertences que foram conseguidos ao longo de toda uma vida de humilhação e trabalho quase escravo.
As humilhações que tais cidadãos vem sofrendo não é de hoje, mas que remonta desde o começo de sua existência, pelos seus pais encarando jornadas de trabalho insalubres para poderem garantir ao menos o alimento em suas casas, a grande maioria começou a trabalhar muito antes dos seu 14 anos e escola? Bem a escola não foi o que muitos procuraram, mas sim alguma maneira de poder sobreviver com seus irmãos, parentes e afins. O que tento dizer é que ali coexistiam famílias simples, que tiveram desde cedo os seus direitos legais negados e que mesmo com todas as adversidades possíveis, não se revoltaram com Estado, pelo contrário trabalharam, lutaram, batalharam, conseguiram reunir seus entes e construir suas moradias, um lugar que ao menos pelo que pensavam era deles, alguns já estavam ali a mais de dez anos outros há oito anos, enfim.
O que de fato todos queriam era poder prosseguir com suas vidas, com seus filhos, com seus sonhos.
O grande problema nessa história que poderia ser de crescimento, cultural e econômico, pasmem foi o Estado, precisamente o Estado de São Paulo e seu Judiciário, Judiciário que é palco de algumas decisões que geram risadas entre amigos, Judiciário que consegui condenar um morador de rua a prisão domiciliar. Judiciário que também condenou milhares de famílias no Pinheirinho a todo tipo de infortúnio, que não fez um juízo de valores sobre o que seria mais importante no dito caso concreto, o direito de milhares de famílias a moradia, ou conceder a reintegração de posse a quem não faria falta alguma, um judiciário que não deu importância ao drama humano, que não levou em conta a Constituição Federal e seus direitos sociais.
Além de um governo altamente protecionista aos especuladores, Geraldo Alckmin não fez nada, não se posicionou a favor da população mas sim de um homem, a favor de Naji Nahas. O que ficou evidente em tal caso é a indiferença dos desembargadores e do governador do Estado de São Paulo frente a sua população que foi mais uma vez oprimida e levada ao carrasco, sem ter feito nada além de lutar pela sua existência, pela fé em si mesmos e nas pessoas.
Pensamentos diferentes tiveram os seus líderes, que em vez de ajudá-los fizeram o contrário, o Estado conseguiu trazê-los a uma situação pior do que a que se encontravam, se antes a vida já era difícil agora ela tem um peso impossível de ser carregado, o que se viu em tal desocupação, foram idosos, jovens e crianças sendo expulsos de seus lares a bala, por força policial. A polícia não veio com rosas, mas sim com seu aparato burocrático de repressão e como bem ilustrado pelo cartunista dos quadrinhos da Mafalda, “veio com sua borracha de apagar ideologias”, ou seja, o cassetete.

O pensamento que fica é que nós regredimos em nossos direitos em vez de promover o bem do indivíduo, promoveu-se os bens de um indivíduo em detrimento de milhares. A democracia não tem de estar apenas na Constituição, mas sim na cabeça e na mente de seus cidadãos, uma sociedade justa e livre, só será feita com cultura e debates, com flores ao invés de armas.

Diego de Oliveira Dobri
diegodobri@hotmail.com

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Decisão

O aprender é um fenômeno constante e muitas vezes inconsciente. Nascemos e necessariamente precisamos de alguém que nos cuide, ao contrário de muitos animais que desde os primórdios de sua existência já são independentes, nós demoramos um bom tempo para dispensarmos a atenção de outro ou outros e arriscarmos a dar nossos próprios passos sozinhos.
Até mesmo no aspecto biológico especialmente no que se refere à formação neurológica e também psicológica, este é o período de maior aprendizagem do ser humano. Quando temos a sorte de ser inseridos num meio de pessoas que tenham noção de suas limitações e incentive nossa capacidade de acreditar em nós mesmos além de favorecer a tornarmos independentes, já estaremos aprendendo da forma mais adequada e mais fácil será corrigir rotas no futuro... Mas nem sempre somos inseridos neste meio “equilibrado” e absorvemos como nosso as mazelas do meio social em que surgimos.
Por muito tempo (algumas vezes por uma vida toda) podemos reproduzir verdades aprendidas neste primeiro contexto social vivido sem termos capacidade de reconhecer como algo descontextualizado, não agimos, apenas reagimos e cada vez que reafirmamos esta estória vivida nos primórdios de nossa existência, mais reforçamos a crença criada a partir disso. A história se reedita, pode-se até mudar os personagens, mas o enredo sempre será o mesmo.
Num primeiro nível este fenômeno é familiar, porém podemos estender às comunidades, até mesmo nações, criando corpos coletivos, com direito a personalidade própria. Pensemos em determinadas nações, algumas “arrogantes” outras “educadas”, umas “violentas” outras “pacifistas”... E por aí vai... Existem as cidades planejadas, que tem pessoas que pensaram e continuam pensando em sua existência, como torná-las arrojadas. Existem também as cidades desorganizadas, crescendo desordenadamente, refletindo a desorganização daquele corpo coletivo que forma a cidade.
Embora o aprender seja contínuo, inconsciente e gerará invariavelmente padrões de comportamento, este fenômeno sempre ocorrerá a partir de uma decisão, a decisão pode também ser inconsciente, mas sempre existirá a decisão. Não é questão de escolha certa ou errada, mas das opções disponíveis em determinado momento, dentro desta perspectiva aquilo que é a decisão correta frente á situação, pode deixar de ser sobre outra condição, aí cabe decidir novamente, ter ciência da dinâmica das coisas e resignificar nossas decisões passadas.
Para aqueles que vemos em estágios primitivos, incapazes de fazer esta dinâmica do relativizar, reavaliar, resignificar, cabe-nos ajudar sem impor, estender a mão ou o ombro afim de que tenham força para caminhar, mas jamais poderemos (mesmo que queiramos ) fazer o caminho do outro pelo outro, o caminho se faz caminhando, o crescimento é um processo individual e solitário, as decisões são de cunho íntimo... Mas se precisar de um amigo, coloquemos a disposição. Para nós, que saibamos resignificar os significados passados já sem sentido ou distorcidos da realidade. Para aquilo que ainda não vemos, que estejamos abertos á identificar e mudar a história quando possível e necessário.