Tradutor/Translator

English French German Spain Italian Dutch
Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified
By Ferramentas Blog

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Entregar-se ao desconhecido - Frase de Clarice Lispector

As vezes tendemos ao racional, lógico e exato... Nesta visão cartesiana perde-se muito daquilo que não se explica ou entende, apenas se vive... Tentando entender esquece-se de viver...
Leandro

"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."
Clarice Lispector

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Tempo...

Admiro o trabalho feito por Fábio de Melo, segue uma linha filosófica que faz refletir... O texto abaixo é a abertura de seu DVD, vem de encontro com o que penso a respeito do tempo, sozinho não é nada, mas não existo sem me relacionar com ele... Eu e o tempo, o tempo e eu...
Leandro

"Eu na trilha incerta dos meus passos,
Mergulhado no destino imenso dos meus sonhos,
Vou percorrendo as estradas do mundo,
Deitando a toalha branca sobre os altares da humanidade,
E retirando do horizonte profano da vida,
A matéria-prima que será sacralizada,
Ele, o tempo, e seus movimentos de suas cirandas,
Vida que se reveste de cores e estações litúrgicas,
Que nos convida a celebrar,
O específico de cada motivo,
Tempo de preparo, de colheita, vida comum,
Sopro do espírito, tempo de ressuscitar,
Eu, sacerdote das divinas causas,
Ele, sacerdote das humanas razões,
Quando com ele não posso, faço acordo,
Sorrio com os motivos de suas alegrias,
E poetizo as tristezas, que de suas mãos se desprendem,
Mas quando com ele posso,
Ah, quando com ele posso, eu dele me esqueço,
E vivo!!!"
Fábio de Melo

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Adoecer = A Dor É Ser...

Adoecer = A Dor É Ser...

Ao longo da vida sempre me senti atraído para o sofrimento, à dor... Não sinto atração em sofrer ou sentir dor, mas em entender aqueles que sofrem e consequentemente meu próprio sofrimento... Qual a razão de alguns sofrerem e outros não... Nessa busca, caminhei pela filosofia, religiões, psicologia procurando a resposta... Mas tudo isso só me serviu de apoio, só com o tempo começa a formar em minha mente um esboço palpável dessa busca interna e constante... Ao longo dessa caminhada de vida vou juntando histórias daqueles que cruzaram minha história e nesse mosaico vivo, vou construindo algumas respostas...
Percebo que o sofrimento, algumas vezes manifestado fisicamente em forma de doenças graves é fruto da contradição entre o que é correto em minha consciência e a atitude que tenho diante da vida, quando se cala a voz da consciência, que a meu ver sempre sabe o melhor caminho a seguir, mesmo que este caminho traga algum desconforto com aqueles que relaciono. Ao aconvardar-me, seja por não saber como agir em defesa de meus princípios ou outros fatores que não me atrevo a decifrá-los, a parte calada irá reclamar, e essa parte (a consciência) irá cobrar o seu espaço. Esse conflito entre o que a consciência diz ser correto e a atitude que tenho é o que me faz adoecer, disso concluo que a dor é ser, ser aquilo que não sou, ser aquilo que não quero, não ser aquilo que sou.
Nas diversas situações na teia de relacionamentos que envolvemos durante a vida, calamos a própria consciência em nome de alguma vantagem ou por medo de enfrentar as conseqüências de ser íntegro consigo e contrariar a expectativa que os outros têm ao “eu”, seja na relação chefe e subordinado, pais e filhos, vizinhos, conjugal. A vantagem pode ser imediata e efêmera, mas o preço é cobrado, das mais diversas formas e até que seja feito o resgate (pagamento, alinhamento entre consciência e ação) e a saúde psicológica e/ou física se equilibra novamente, terminando com o sofrimento. Nada disso é novo, de certa forma é a base filosófica descrita por Bach criador dos florais no início do século XX e definido pela psicologia moderna como psicossomática, ou seja, a somatização do que é psicológico/mental.
Mas e aqueles que fazem as piores barbáries e não tem sofrimento? É sinal que ainda não deram passagem a voz da consciência. Essa dorme e não consegue chegar ao consciente, reclamando seu espaço. Então o sofrimento é sinal de evolução, parte de quem sou reclama seu direito para parte que nego ser. Esse desconforto me fará, mesmo que a duras penas alguém melhor, mais íntegro, mais alinhado a minha consciência, ao meu eu superior.
Leandro Pereira

quinta-feira, 26 de março de 2009

Tocando em frente

Tocando em Frente

Almir Sater e Renato Teixeira

Ando devagar porque já tive pressa
Levo esse sorriso porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte, mais feliz quem sabe
Só levo a certeza de que muito pouco eu sei
Eu nada sei

Conhecer as manhas e as manhãs,
O sabor das massas e das maçãs,
É preciso amor pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder sorrir,
É preciso a chuva para florir

Penso que cumprir a vida seja simplesmente
Compreender a marcha e ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro levando a boiada
Eu vou tocando os dias pela longa estrada eu vou
Estrada eu sou

Conhecer as manhas e as manhãs,
O sabor das massas e das maçãs,
É preciso amor pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder sorrir,
É preciso a chuva para florir

Todo mundo ama um dia, todo mundo chora,
Um dia a gente chega, no outro vai embora
Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz
E ser feliz

Conhecer as manhas e as manhãs
O sabor das massas e das maçãs
É preciso amor pra poder pulsar,
É preciso paz pra poder sorrir,
É preciso a chuva para florir

Ando devagar porque já tive pressa
E levo esse sorriso porque já chorei demais
Cada um de nós compõe a sua história,
Cada ser em si carrega o dom de ser capaz
E ser feliz

quinta-feira, 19 de março de 2009

Fernando Pessoa

O poema abaixo de Fernando Pessoa, me faz refletir nas muitas máscaras que temos para viver e se relacionar no mundo, os muitos personagens que fazem parte de nosso elenco, muitos deles, ou muitas destas máscaras são tão coladas que não se sabe o que é do meio e quem somos nós... E quando se tenta nos resgantarmos em nossa essência, nos vemos envelhecidos...
Leandro


"Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
0 dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho, Já tinha envelhecido."
Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

quinta-feira, 12 de março de 2009

Arriscar é viver

Arriscar é viver

Rir é arriscar-se a parecer louco.
Chorar é arriscar-se a parecer sentimental.
Estender a mão é arriscar-se a se envolver.
Expor seus sentimentos é arriscar-se a expor o seu eu verdadeiro.
Amar é arriscar-se a não ser amado.
Expor suas idéias e sonhos em público é arriscar-se a perder.
Viver é arriscar-se a morrer.
Ter esperança é arriscar-se a sofrer decepção.
Tentar é arriscar-se a falhar.

Mas é preciso correr riscos.
Porque o maior azar da vida é não arriscar nada…
Pessoas que não arriscam, que nada fazem, nada são.
Podem estar evitando o sofrimento e a tristeza.
Mas assim não podem aprender, sentir, crescer, mudar, amar, viver…
Acorrentadas às suas atitudes, são escravas, abrem mão da sua liberdade.
Só a pessoa que arrisca é livre…
Arriscar-se é perder o pé por algum tempo.
Não se arriscar é perder a vida…

Kierkegaard (1813-1855)

quinta-feira, 5 de março de 2009

A natureza do sofrimento

A natureza do sofrimento
O sofrimento aumenta a nossa força interior. - SS Dalai Lama

Sete dias após ter atingido a Iluminação, Buddha fez o seu primeiro sermão onde transmitiu os ensinamentos fundamentais do Budismo: as Quatro Nobres Verdades. São elas:

1. O sofrimento existe.
2. O sofrimento tem as suas causas.
3. É possível eliminar estas causas.
4. Existe um caminho para as eliminar.

Elas são semelhantes a uma receita médica: diagnosticam a doença, a causa dessa doença, o remédio para a curar e a prescrição de como o tomar. Para crescermos espiritualmente, iremos praticar estas Quatro Verdades como um método que nos ajudará a superar a limitada ideia que temos sobre nós mesmos e a abrirmos o nosso coração para comunicarmos verdadeiramente com o outro.

A primeira nobre verdade: “O sofrimento existe”

A primeira nobre verdade refere-se à existência do sofrimento. A realidade do sofrimento é denominada pela palavra dukkha, em Pali (antigo sânscrito) que, além de sofrimento, também significa imperfeição, impermanência, vazio, insubstancialidade.

Este é o ponto inicial da estrutura lógica do Budismo: a constatação da existência do sofrimento e de que todos os seres estão sujeitos a ele. No entanto, o Budismo não é uma filosofia derrotista, nem pessimista. Ele ensina-nos que podemos despertar a nossa sabedoria intuitiva para não sofrer com o sofrimento.

A nossa tendência, em geral, é negar a marca de sofrimento humano. Sentimo-nos “traídos” pelo destino quando temos que lidar com as separações, com a doença, com a morte ou mesmo com o envelhecimento. Encaramos estes processos com indignação, isto é, como se não fosse justo nem correcto sofrer! No entanto, se não houvesse sofrimento, não seria preciso buscar a sabedoria. Ela não seria necessária, e, portanto, raramente seria atingida.

É a consciência do sofrimento que gera a energia da sabedoria, não o sofrimento em si mesmo. Sofrer sem sabedoria é acumular mais confusão e dor. A dor, em si, não purifica nada. Por isso, se diz: “Isso com o tempo passa.”, o que não é verdadeiro para quem sofre de uma dor não compreendida. Para nos libertarmos do sofrimento temos, também, que despertar o desejo profundo de nos desapegarmos dele.

Podemos abraçar o sofrimento com a intenção de o transformar em autoconhecimento e sabedoria. Como escreve Pema Chödrön no seu livro "Os lugares que nos assustam": “Aceitar que a dor é inerente à vida e viver as nossas vidas a partir dessa compreensão é criar as causas e condições para a felicidade."

Segundo o Budismo, existem três tipos de sofrimento:

1. Sofrimento ordinário (ou sofrimento do sofrimento)

Existem duas formas de sofrimento ordinário: o sofrimento intrínseco à vida consciente e o sofrimento causado pelas tentativas de o evitar e fugir dele. O sofrimento intrínseco à vida consciente é expresso na tristeza: uma sensação de vazio decorrente da falta de um sentido para a vida.

O sofrimento ordinário é próprio da vida humana: todas as formas de sofrimento físico e mental relacionadas ao nascimento, ao envelhecimento, à doença e à morte, assim como estar ligado ao que se detesta, estar separado do que se ama e não realizar o que se deseja. Por isso, este tipo de sofrimento também pode ser chamado de sofrimento do sofrimento: quando algo que nos causa dor surge como causa para desencadear mais dor.

Quando uma coisa má acontece logo após outra, e as situações vão "de mal a pior", podemos achar que estes são momentos de azar, mas, na realidade, eles expressam algo bem mais fundamental: a nossa própria impotência frente à realidade imediata. E quando estamos impotentes, não temos saída senão aceitar as coisas como se dão. Essa é a grande sabedoria que as situações de sofrimento contínuo têm para nos ensinar.

2. Sofrimento produzido por mudança

O sofrimento produzido por mudança é expresso na busca de prazeres e de estados de alegria transitórios, que levam a mais sofrimento pela sua natureza provisória e inconsistente.

Esse tipo de sofrimento também ocorre quando nos recusamos a admitir a natureza impermanente da vida. Apesar de intelectualmente sabermos que tudo muda constantemente e de modo imprevisível, emocionalmente lutamos para aceitar esta verdade. Ao fazermos isso, sentimo-nos inseguros, nada nos parece confiável e tudo se torna insatisfatório para nós.

A realidade externa é, por natureza, incerta, portanto, não podemos ter garantias em relação a ela. A pessoa insegura é justamente aquela que busca controlar a realidade externa. A pessoa segura é aquela que aceita a sua insegurança.

Ao conviver com mestres budistas, passei a notar uma forte característica comum a todos eles: eles vivem a vida, ao invés de a tentar controlar.

3. Sofrimento que a tudo permeia

O sofrimento que a tudo permeia é constante, porém subtil.

Na maior parte do tempo, lutamos contra a realidade da existência do sofrimento. Buscamos desesperadamente “dicas” para driblá-lo, na esperança de que seja possível evitá-lo. Mas a Primeira Nobre Verdade ensina-nos que nada disso adianta: enquanto houver ignorância, haverá sofrimento.

É preciso encarar o sofrimento para o eliminar. Encarar aqui não significa desafiar, e sim, simplesmente pôr-se diante dele para conhecer a sua natureza, sem o julgar como justo ou injusto.

O que intensifica a dor de um sofrimento é o sentimento de indignação frente a ele, ou seja, é a nossa exasperação diante do sofrimento que faz com que ele aumente e tome conta de todo o nosso ser.

Tudo isso quer nos dizer: pare de lutar contra a realidade. Não resista ao que está, objectivamente, ocorrendo.

É como a enxaqueca, por exemplo: precisamos de nos isolar, tomar um remédio e, confiantemente, esperar que ela passe. Cada vez que pensamos: “Aiii! Esta maldita dor não passa!” e ficamos impacientes, a cabeça lateja fortemente e a dor imediatamente aumenta. É quase como um alarme, um aviso de que esse não é o modo de proceder, de que é justamente isso que intensifica a dor.

Ao contrário, quando podemos nos apropriar do nosso sofrimento, seja ele físico ou emocional, e dizer para nós mesmos: “OK, está a ocorrer isto comigo. Estou a sofrer, mas estou aqui para fazercompanhia a mim mesmo. Não vou abandonar-me diante desta dor.”, iremos nos sentir mais leves e livres para o transformar.

Uma vez que aprendemos a nos responsabilizar pela maneira como lidamos com o sofrimento, passamos a entender que não precisamos de nos tornar vítimas dele.

Tornamo-nos vítimas do sofrimento quando não o aceitamos e lidamos com ele como se ele estivesse fora de nós, projectando, assim, a causa de nossa dor nos outros. Acolher o nosso sofrimento é o único modo de sair do ressentimento e das projecções. Quando fazemos isso, sentimo-nos mais tranquilos e seguros, pois, como diz Lama Gangchen ao final da prática de meditação Auto Cura Tântrica: “Não existem mais inimigos”. É preciso ter empatia por nosso sofrimento: ter compaixão por ele, isto é, despertar um interesse genuíno por o conhecer e querer transformá-lo.

Tara Bennett-Goleman, psicoterapeuta americana, alia a psicologia budista à psicologia cognitiva. Neste método, o paciente aprende a identificar os seus esquemas - padrões emocionais inadaptados - e a transformá-los por meio da meditação budista de plena consciência. Ela escreve no seu livro Alquimia Emocional: “Não apenas como terapeuta, mas também no meu trabalho interno pessoal, aprendi que é importante compreender como cada pessoa vivencia e interpreta uma situação, e sentir empatia pela realidade simbólica dessa pessoa. Quando a parte da pessoa que se identifica com a realidade do esquema sente que está a receber empatia, ela pode começar a abrir-se a outras perspectivas, o que inclui começar a perceber como a lente do esquema distorce as suas percepções e reacções."

Se não formos empáticos com o nosso sofrimento, poderemos buscar esta empatia no reconhecimento alheio. Ou seja, muitas vezes, sem nos darmos conta, alimentamos o sofrimento por meio de lamentações que nada mais são do que tentativas de sermos reconhecidos, pelos outros, por aquilo que estamos a passar. Mas, de facto, este reconhecimento pouco nos ajuda. Será ao sentir compaixão por nós mesmos, que conseguiremos parar de nos lamentar e decidir, de facto, fazer algo para sair do sofrimento.


Fonte: Texto extraído do “O livro das Emoções - Reflexões inspiradas na Psicologia do Budismo Tibetano” de Bel César, Ed. Gaia.